Mãe compartilha experiência com adoção tardia no interior de SP: ‘De casal a pais de três’

Késia e o marido Thiago são de Pompeia (SP) e há 3 anos usam as redes sociais para mostrar os prazeres e desafios com os filhos. Nesta quinta-feira é comemorado o Dia Nacional da Adoção. Hoje, o casal comemora com os filhos, Antônio, Ivo e Marcelo, o sucesso da adoção tardia
Arquivo Pessoal
Segundo os dicionário, o significado da palavra adoção é a “aceitação legal de uma criança como filho”, mas para o casal Thiago e Késia Hashimoto, é muito mais que isso. Há três anos, a família aumentou com a chegada de três filhos, de 4,5 e 8 anos.
Moradores de Pompeia (SP), os dois estão juntos há mais de 8 anos e contam que, o desejo mútuo de aumentar a família veio após apenas 10 meses de casados, depois de um passeio com amigos.
“Estávamos em um sítio com uma família que estava comemorando um aninho da filha (…) e naquele dia acendeu o desejo de nos tornarmos pais. Eu falei: gata, acho que está na hora de encomendarmos o nosso filho, né?”, lembra Thiago.
A partir daí, foi mais de um ano de tentativas sem sucesso. Procurando ajuda médica, receberam o diagnóstico de azoospermia. Uma notícia que abalou o casal. “ A gente entende que o processo natural da vida é ser criança, crescer, se casar e ter filho. Quando aconteceu isso, a gente ficou meio sem chão”, conta Késia.
Thiago e Késia viram na adoção a porta para a parentalidade
Arquivo Pessoal
Mesmo com o difícil diagnóstico, o desejo de parentalidade ainda rondava o casal. Conversando sobre o assunto, eles descobriram um antigo desejo em comum: a adoção. Quando mais jovem, Késia tinha apadrinhado uma criança em um abrigo, assim como Thiago, que apadrinhava uma criança africana.
“Quando veio esse diagnóstico, a gente ainda falou assim: ah, mas ainda tem a adoção. Mas, até então para a gente era um plano b”, conta Késia.
Mesmo com o diagnóstico de infertilidade e a decisão mútua pela adoção, Késia e Thiago ainda demoraram quatro anos para pensar novamente em ter filhos, também durante um passeio com amigos que tinham filhos.
“Nós nos casamos em 2014, o diagnóstico veio em 2016 e em 2019 nós fomos passear com amigos, que estavam com a bebê deles. O Thiago começou a carregar o carrinho e ele falou: acho que está na hora de encomendar um amiguinho para ela”, conta Késia.
A partir dali, o casal tomou a decisão de entrar para a fila de adoção. (Veja mais detalhes sobre o processo de adoção no Brasil no fim da reportagem).
A adoção
Um dos campos que precisam ser preenchidos no processo de adoção é o do perfil: idade e quantidade de crianças. Thiago e Késia são fotógrafos, e já tinham experiências com crianças de todas as idades por conta das festas infantis em que trabalhavam.
“Essa parte foi engraçada, nós íamos em festas infantis e eu perguntava para as crianças: qual sua idade? Para ter uma noção de até qual idade a gente dá conta”, afirma Thiago.
O perfil escolhido pelo casal foi de uma criança de até 5 anos de qualquer lugar do Brasil. Mas isso mudou depois de assistirem o filme “De Repente Uma Família”, que conta a história de uma casal que adota três irmãos: uma já adolescente e outros dois com mais de 5 anos.
“No final do filme, eu olhei pra Késia e falei: já que a nossa família vai crescer, vamos crescer de uma vez?”. Foi ai que eles decidiram mudar o perfil da criança e incluir a possibilidade de adotar até 3 irmãos.
Mais rápido que o planejado, por conta do perfil abrangente, no dia 4 de dezembro de 2019, com apenas 12 dias no sistema, a assistência social de Campo Grande (MS) entrou em contato com o casal. Um trio de meninos com 4, 5 e 8 anos se encaixava com o perfil descrito pelo casal. E uma semana depois o telefone tocou de novo e três irmãos de São Paulo, uma menina e dois meninos, também batiam com o perfil. O casal tinha 24 horas para decidir em qual processo seguir.
“Esse foi o momento mais difícil do nosso processo da adoção. A gente sabia que dar continuidade no processo significava dizer não ao outro grupo de irmãos.”
Thiago e Késia foram recomendados por amigos que já tinham passado pelo processo de adoção a não pedirem foto das crianças, para não criarem laços antes mesmo de prosseguirem com o processo. Porém, sem consentimento do casal, a comarca de Mato Grosso do Sul encaminhou uma foto dos meninos para Késia.
Késia recebeu a primeira foto trio de irmãos de Campo Grande (MS) por e-mail
Arquivo pessoal
“Na hora que eu olhei os olhinhos todos puxadinhos e eu falei: nossa, são meus! É a cara do pai!”, lembra Késia, já que Thiago tem ascendência oriental.
De casal a pais de três
Enquanto a maioria dos pais tem os 9 meses meses de gestação para se prepararem para a chegada dos filhos, Thiago e Késia tiveram apenas 47 dias entre o início do processo para adoção dos meninos de Campo Grande e a ida deles para casa, no interior de SP. O primeiro encontro foi registrado e aconteceu no MS. (Veja no vídeo abaixo).
Adoção tardia: casal de Pompeia adota três irmãos com idades entre 4 e 8 anos
As camas foram feitas pelo próprio casal, mas a lista só aumentava: material escolar, roupas, calçados. Foi aí que uma enorme ação em comunidade começou. “Começava a chegar gente aqui em casa com presente que a gente nem conhecia”, lembra Késia.
Segundo o casal, eles não adotaram sozinhos. Família, igreja, amigos, comunidade todos apoiavam a história. E finalmente, após 4 dias de integração em Campo Grande (MS), no dia 24 de janeiro de 2020 Antônio, Ivo e Marcelo estavam no novo lar. (Veja no vídeo abaixo).
Trio de irmãos chegam em casa após serem adotados por casal de Pompeia
‘Mãe Sem Neura’
“Os primeiros dias foram muito tranquilos. Na adoção, no primeiro momento tem o lua de mel: da mesma maneira que nós queríamos passar nosso melhor para eles, eles também queria passar o melhor deles para a gente.” conta a mãe.
Os três primeiros meses foram de adaptações até o trio se sentir efetivamente em casa.
“Foi só com o tempo que eles perceberam que ali era o lugar deles mesmo. Eles começaram a colocar os medos, os traumas deles para fora, e ai começaram as rejeições, regressões, mas tudo isso por eles entenderam que aqui é o lugar para eles se abrirem e serem que eles eram.”
Com essas situações, Késia resolveu abrir seu perfil do Instagram, que antes servia para mostrar o processo de adoção para família e amigos de longe, a toda comunidade. O objetivo era criar uma rede de apoio para famílias que estão passando por esse processo.
Através das redes sociais, Késia e Thiago apresentam o dia a dia da adoção “sem neura”
Instagram / Reprodução
“A gente queria que as pessoas de longe pudessem acompanhar o processo. Então antes da chegada dos meninos, preparação do quarto, da casa, a gente já estava começando a mostrar (…) e aí foi tomando outra forma o negócio, tomando outra proporção. E aí entramos de cabeça para ajudar outras famílias do Brasil. Hoje a gente recebe vários depoimentos, acompanhamos algumas famílias durante o processo inclusive durante a adaptação”, explica.
Adotar no Brasil
O processo de adoção é gratuito e deve ser iniciado na Vara de Infância e Juventude mais próxima de sua residência.
A idade mínima para se habilitar à adoção é 18 anos, independentemente do estado civil, desde que seja respeitada a diferença de 16 anos entre quem deseja adotar e a criança a ser acolhida.
Nas comarcas em que o novo Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento tenha sido implementado é possível realizar um pré-cadastro com a qualificação completa, dados familiares e perfil da criança ou do adolescente desejado.
A documentação exigida está prevista no ECA, mas pode ser que, dependendo do estado, outros documentos sejam pedidos, por isso é importante entrar em contato com a unidade judiciária local para saber tudo que é exigido. Mais detalhes estão disponíveis no site do Conselho Nacional de Justiça.
*Sob a supervisão de Mariana Bonora
Veja mais notícias da região no g1 Bauru e Marília
VÍDEOS: Assista às reportagens da TV TEM

Adicionar aos favoritos o Link permanente.