ES é o estado com maior impacto de temperaturas extremas do país, seguido de SP e RS, aponta estudo inédito

De acordo com o estudo da Unifesp, somente nos últimos 40 anos, o estado quase triplicou (188%) a frequência das ondas de calor. Impactos vão de desconforto térmico ao aumento de incêndios florestais, segundo especialistas. Vitória, capital do ES, registrou 39ºC
Vitor Jubini/Rede Gazeta
Um estudo inédito realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revelou que o Espírito Santo é o estado do Brasil com maior impacto na frequência dos eventos extremos de temperatura do ar na costa do país. Somente nos últimos 40 anos, o estado quase triplicou (188%) a frequência das ondas de calor.
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O estudo avaliou uma série histórica com dados de temperatura do ar observados a cada hora do dia ao longo dos últimos 40 anos em cinco regiões costeiras do país. São elas:
São Luís (MA)
Natal (RN)
São Mateus (ES)
Iguape (SP)
Rio Grande (RS)
A partir dos dados coletados, pesquisadores do Instituto do Mar (IMar/Unifesp) envolvidos na pesquisa utilizaram modelos matemáticos para definir o que seriam extremos de temperatura para cada uma das regiões.
Uma das conclusões do estudo é o aumento da frequência de ocorrências de eventos extremos de frio e calor no Espírito Santo, por exemplo.
Além disso, o estado tem apresentado aumento na intensidade da variação térmica diária (diferença entre temperaturas mínima e máxima do dia), o que significa que é cada vez mais frequente encontrar dias cada vez mais variáveis na temperatura.
A pesquisa demonstra que está se tornando mais frequente encontrar temperaturas cada vez mais altas na costa Sudeste e Sul do país.
Nos litorais do Espírito Santo, Rio Grande do Sul e de São Paulo, a frequência de ocorrências diárias de extremos máximos de temperatura e das ondas de calor, caracterizada por dias consecutivos de extremos máximos de temperatura, também tem aumentado ao longo dos anos. Além disso, a frequência de ocorrências diárias e de eventos de ondas de frio no Espírito Santo tem aumentado.
3ºC em Venda Nova do Imigrante, Região Serrana do ES
Reprodução/Redes Sociais
“Identificamos o litoral do ES como a região mais afetada entre as que estudamos, pois além das ondas de calor, foi a única região onde a frequência de ondas de frio é cada vez maior”, explicou o autor da pesquisa e pós-doutorando pelo IMar/Unifesp, Fábio Sanches.
Nos últimos 40 anos, enquanto que a ocorrência de eventos extremos de temperatura quase triplicou no Espírito Santo (188%), ela quase dobrou em São Paulo (84%) e dobrou no Rio Grande do Sul (100%).
O estudo mostrou ainda que o número de eventos por ano é variável, dependendo de condições específicas, como os fenômenos El Niño e La Niña. No entanto, a taxa de aumento de eventos extremos do Espírito Santo é, em média, de 4,7% ao ano, enquanto que em São Paulo é, em média, de 2,1% e, no Rio Grande do Sul, de 2,5% ao ano.
Impactos ambientais e nos seres humanos
Área do Parque Estadual Paulo César Vinha atingida por incêndio
Marcelo Nascimento/Rede Gazeta
Coordenador da pesquisa, bolsista produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e professor do IMar/Unifesp, Ronaldo Christofoletti detalhou os impactos do aumento da frequência dos extremos de temperaturas.
“O aumento de ondas de calor e de frio tem vários impactos na sociedade em todo o mundo, que vão desde o desconforto térmico até o aumento de incêndios florestais, problemas de saúde e da mortalidade de animais, plantas e dos seres humanos, especialmente idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade. Estudos recentes demonstram um aumento de quase 70% na mortalidade de idosos devido ao calor intenso. Ao longo dos últimos anos, foram vários casos de mortalidade por ondas de calor, como os vistos na Espanha, no Canadá e em Portugal, por exemplo”, disse.
Segundo o autor da pesquisa, os impactos das variações de temperatura também impactam a biodiversidade das regiões mais afetadas.
“Diversas espécies de animais marinhos têm apresentado alterações fisiológicas, de mudança de comportamento e até da distribuição de onde vivem em função das ondas de calor e frio. Eventos extremos de temperatura podem ocasionar mortalidade em massa de recursos pesqueiros e influenciar as cadeias de pesca, especialmente, as da pesca artesanal”, acrescentou Sanches.
Além dos recursos pesqueiros, Christofoletti pontuou ainda que “o agronegócio brasileiro está ameaçado por estas variações. A produtividade é dependente do ciclo anual de temperatura e chuva, e as alterações de extremos e de amplitude térmica podem baixar a produtividade, a qualidade da produção ou mesmo levar a perda da safra”.
Ele cita que especialmente no Sul do país, com os dados de que as temperaturas mínimas estão cada vez mais altas, pode levar a uma alteração do sistema produtivo nas próximas décadas.
O estudo
Com esta pesquisa detalhada, foi possível observar como a frequência e a intensidade dos índices de temperaturas mínima e máxima, a variação da amplitude térmica ao longo do dia e as mudanças abruptas de temperatura entre dias consecutivos variam em cada região e época do ano.
Intitulado “The increase in intensity and frequency of surface air temperature extremes throughout the western South Atlantic coast”, o estudo foi publicado na revista científica Scientific Reports no dia 25 de abril de 2023.
O estudo mostrou ainda que toda a costa brasileira já está sofrendo algum impacto das mudanças climáticas em relação à temperatura do ar, com os litorais das regiões Sudeste e Sul sendo mais impactadas do que das regiões Norte e Nordeste onde, apesar de existirem extremos de temperatura ao longo de todo ano, eles não estão aumentando em frequência ou intensidade.
Para a secretária nacional de Mudança do Clima do Ministério de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (MMA), Ana Toni, as mudanças dos padrões de eventos extremos na costa brasileira são um sinal importante de alerta para a vulnerabilidade climática do Brasil como um todo.
“Este estudo confirma que a emergência climática não é futurologia e sim parte de uma realidade que temos que enfrentar, combatendo suas causas com ações concretas de mitigação e com políticas públicas eficazes de adaptação”, alertou Ana Toni.
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