Distribuição de camisinhas nos Jogos da Juventude, para atletas de idades entre 15 e 19 anos, despertam reação de pais na Coreia do Sul

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Um grupo de pais sul-coreanos ficou indignado com a distribuição de preservativos aos atletas de 13 a 19 anos das Olimpíadas de Inverno da Juventude em Gangwon. Analistas citam conservadorismo sobre sexualidade no país. Esportista com um boneco dos Jogos Olímpicos da Juventude na Coreia do Sul
Reuters
Os Jogos Olímpicos de Inverno da Juventude chegam ao fim nesta quinta-feira (1º), em Gangwon, na Coreia do Sul. A edição foi marcada pelo avanço de atletas e equipes de países sem tradição em esportes na neve. Prova disso é o catarinense Zion Bethonico, de 17 anos, que levou o bronze no snowboard cross e conquistou a primeira medalha do Brasil na história das Olimpíadas de Inverno – sejam adultas ou para jovens.
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No entanto, os Jogos de Gangwon serão lembrados também por uma polêmica – pelo menos por parte da população coreana conservadora.
Os organizadores do evento estão sob pressão de uma associação de pais sul-coreana, após a distribuição de camisinhas aos participantes, que têm entre 15 e 18 anos de idade. Mais de 1.900 jovens atletas participam dos Jogos.
Em um comunicado divulgado em 23 de janeiro, seis dias após a cerimônia oficial de abertura na província sul-coreana de Gangwon, a Federação Nacional de Organizações de Pais exigiu que os preservativos não fossem mais entregues e que o comitê organizador local emitisse um pedido oficial de desculpas.
Para o grupo de pais, caso isso não fosse feito, os Jogos Olímpicos da Juventude deveriam ser “abolidos”.
O comitê organizador em Gangwon não comentou o assunto. No entanto, o Comitê Olímpico Internacional, em resposta à DW, defendeu a ação, justificando que “a distribuição de preservativos nas Vilas Olímpicas da Juventude faz parte do programa de educação em saúde que está disponível para os atletas durante sua estadia”.
Simpatia do público
A mídia local na Coreia do Sul parece ter ignorado amplamente as objeções do grupo de pais. No entanto, para analistas, as queixas ilustram as atitudes de muitos pais sul-coreanos e sua relutância em discutir questões relacionadas à sexualidade com os filhos.
Park Jung-won, professor de direito internacional da Universidade Dankook, disse que há uma veia profunda de conservadorismo que atravessa a moderna e rica nação asiática.
“Parece-me que o público em geral pelo menos entende um pouco a indignação deste grupo de pais sobre os organizadores olímpicos distribuindo preservativos gratuitos”, destaca.
Segundo ele, isso ocorre porque a sociedade sul-coreana mantém visões conservadoras em relação à autoridade dos pais sobre os adolescentes, enquanto a lei sul-coreana também apoia fortemente os direitos dos pais sobre os menores.
“Acho que um número significativo de cidadãos pelo menos se solidariza emocionalmente com a forte raiva expressada por esses grupos conservadores”, acrescentou.
Idade de consentimento entre as mais altas do mundo
Os organizadores confirmaram em 23 de janeiro que 2,5 mil preservativos foram disponibilizados gratuitamente na vila dos atletas, na Universidade Nacional Gangneung-Wonju, e 500 enviados para a acomodação dos atletas no resort Jeongseon High1, informou o jornal The Korea Herald.
A associação de pais emitiu o comunicado no mesmo dia, exigindo um pedido de desculpas pela disponibilização de contraceptivos a crianças e menores.
“As mães não querem que seus filhos sejam tentados a fazer sexo para desfrutar de um momento de prazer”, disseram.
A idade de consentimento na Coreia do Sul é de 20 anos, uma das mais altas do mundo.
“Ato que mina o espírito olímpico”
O grupo alertou que os preservativos não previnem todas as infecções sexualmente transmissíveis.
“Distribuir preservativos nas Olimpíadas da Juventude, que deveriam ser uma plataforma para promover corpos saudáveis e mentes sãs, é um ato que mina o espírito olímpico”, disse o grupo de pais no comunicado.
“A missão do espírito olímpico, que é construir um mundo pacífico e melhor, educando os jovens através do esporte, significa que também devemos valorizar a curiosidade sexual ou o comportamento instintivo?”, questionou.
“Se a razão por trás do fornecimento de preservativos a jovens atletas é [por causa da] curiosidade, isso significa que é aceitável encorajar adolescentes a cometer roubos se eles são curiosos sobre isso?”, acrescentou a nota.
Tabus da sociedade confucionista
Preservativos gratuitos foram fornecidos pela primeira vez aos atletas nos Jogos Olímpicos de Verão de 1988, que, curiosamente, foram realizados na capital sul-coreana, Seul. Na época, os organizadores disseram que a iniciativa mostrava o compromisso do Comitê Olímpico Internacional com o sexo seguro e a saúde sexual.
A distribuição ocorreu em todas as Olimpíadas desde então, incluindo nos Jogos Olímpicos da Juventude de Buenos Aires em 2018 e nos Jogos Olímpicos de Inverno da Juventude de Lausanne em 2020. As autoridades disseram que 450 mil preservativos foram fornecidos nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, embora isso tenha sido parcialmente motivado por uma medida contra a disseminação do vírus Zika na América do Sul.
Para Lim Eun-jung, professor associado de estudos internacionais na Universidade Nacional de Kongju, a Coreia do Sul ainda é “muito orientada para o confucianismo”. A maioria das interpretações da filosofia confucionista desencoraja discussões sobre sexo, elogia a castidade, especialmente entre as mulheres, e limita as práticas sexuais ao casamento.
“Mas não vejo essa questão atraindo muita atenção do público, e os telejornais e os jornais não [noticiaram] essa questão em profundidade”, disse.
Com o final do evento nesta quinta-feira, a imagem dos Jogos Gangwon não parece ter sido arranhada pela distribuição das camisinhas. De acordo com Park, da Universidade Dangkook, o efeito real da indignação dos pais pode ser mesmo destacar a mensagem de sexo seguro em um país onde a questão é frequentemente silenciada.
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