Expressão em Quadrinhos: Sem medo de tabus, artista ‘enquadra’ machismo, masturbação e sexualidade em publicações

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Reportagem faz alusão ao Dia Nacional das HQs, que é comemorado nesta terça-feira (30). Quadrinista Carol Ito aborda temas como sexualidade, machismo e masturbação
@carolito.hq
Sexualidade, machismo, masturbação e política. Esses são alguns dos temas dos livros em quadrinhos da jornalista, quadrinista e ilustradora Carol Ito, de 31 anos, que nasceu em Presidente Prudente (SP) e mora atualmente em São Paulo (SP). Ela também foi a ganhadora do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos de 2022 na categoria Arte e contou ao g1 sobre as inspirações para suas obras.
Esta reportagem especial faz parte da série “Expressão em Quadrinhos”, do g1, em alusão ao Dia Nacional das Histórias em Quadrinhos, que é comemorado nesta terça-feira (30).
Primeiro contato
A quadrinista relembrou que começou a consumir histórias em quadrinhos (HQs) por meio dos mangás, na infância e na pré-adolescência. Carol disse que acompanhava algumas séries em quadrinhos e começou a copiar as “revistinhas”.
“Gostava muito de desenhar, então, meu primeiro contato com quadrinhos foi copiando revistinha de mangá. Nesse processo, eu sempre desenhei, só que eu não via como uma profissão. Eu fui fazer jornalismo na Unesp [Universidade Estadual Paulista] e o quadrinho era um hobby que eu ia fazendo paralelamente. Só que, conforme eu ia fazendo mais trabalhos, isso acabou dominando minha renda e virou um trabalho”, afirmou a artista.
Ela disse ainda que na faculdade descobriu a possibilidade de juntar suas duas habilidades, porém, passou a viver profissionalmente das ilustrações há cerca de quatro anos.
“Quando eu conheci o Joe Sacco, que é o autor do livro ‘Palestina’, ainda na faculdade, eu descobri que existe jornalismo em quadrinhos e falei: ‘Dá para juntar as duas habilidades, as duas linguagens que eu me interesso’ . E fiquei sempre pesquisando sobre, acompanhando trabalhos fora do Brasil e resolvi fazer aqui também”, explicou Carol ao g1.
Quadrinista Carol Ito aborda temas como sexualidade, machismo e masturbação
Maria Ribeiro
Prêmio Vladimir Herzog
O primeiro livro em quadrinhos de Carol foi publicado em 2021 e tem o título “Três Mulheres da Craco”. A quadrinista contou que a ideia surgiu porque ela morava, na época, a duas quadras do “fluxo da Cracolândia” e, durante a pandemia de Covid-19, ficou inquieta para saber como “aquelas pessoas estavam vivendo aquele período”, em São Paulo.
“Eu queria saber o que estava acontecendo e, como eu trabalho bastante com o direito das mulheres e gênero, resolvi falar das mulheres cis e trans que viveram esse período e as estratégias que elas criaram para enfrentar a pandemia”, afirmou Carol ao g1.
O livro em quadrinhos conta a história de três mulheres, “cada uma tem um caminho diferente”, e também fala sobre as redes de apoio que, segundo ela, “seguraram a onda” durante esse período de pandemia para evitar “uma tragédia maior”.
Foi com essa obra que a quadrinista conquistou o prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos de 2022 na categoria Arte, que é uma premiação criada com o objetivo de estimular jornalistas e artistas do traço a tratarem do tema da Anistia e dos Direitos Humanos.
“Eu fiquei muito feliz de ter ganhado o Herzog. É um prêmio que eu respeito muito e no qual eu sempre me inscrevi, sempre desejei fazer parte disso e foi a primeira premiação depois da pandemia, presencial. Então, foi muito emocionante”, disse a quadrinista ao g1.
Ela também falou sobre a felicidade de poder humanizar as pessoas que vivem na região da Cracolândia.
“Minha ideia era fazer um trabalho que mostrasse que elas têm histórias, têm sonhos, têm desejos como todo mundo e não são zumbis ou que não são criminosas como sempre aparecem no noticiário policial. Fico feliz de ter ganhado o prêmio e de ter falado desse assunto de uma maneira humana, embora seja redundante ter de humanizar pessoas, mas de fato elas são desumanizadas frequentemente”, afirmou Carol.
Quadrinista Carol Ito aborda temas como sexualidade, machismo e masturbação
@carolito.hq
Temas tabus
Ao ser questionada sobre os temas que aborda em suas ilustrações, a quadrinista afirmou que tudo tem ligação com o que ela está vivendo.
“Eu costumo abordar bastante temas ligados ao comportamento, gêneros, sexualidade, cotidiano. Tem tudo ligação com o que estou vivendo, com as coisas que eu pesquiso, que eu vivencio, e eu também costumo lidar com temas tabus. Eu gosto de temas que cutuquem, que incomodem de alguma forma e possam promover mudanças”, informou a artista.
Em 2023, Carol lançou três livros em quadrinhos. O primeiro chama-se “Inteiro pesa mais do que metade” e conta uma história autobiográfica sobre a relação dela com a ansiedade e a depressão e faz uma reflexão sobre o mundo, “que é extremamente adoecedor em termos de saúde mental”.
“Eu faço um pouco essa reflexão e falo um pouco da minha trajetória, para que pessoas que passam por isso ou que conhecem outras que passam possam identificar sintomas, gatilhos e saber que procurar ajudar não é motivo de vergonha, pelo contrário”, explicou a quadrinista.
Tiras publicadas nas redes sociais da quadrinista Carol Ito
@carolito.hq
A segunda publicação foi o livro em quadrinhos “Boy Dodói”, em que Carol é co-editora e desenha uma das 11 histórias ilustradas sobre masculinidade tóxica, e a ideia surgiu após uma conversa de bar entre ela e as outras co-editoras da obra.
“A gente resolveu juntar essas histórias e contar em quadrinhos para refletir sobre o machismo e para mostrar que tem comportamentos que precisam acabar, que são completamente tóxicos. A gente fez uma convocatória na internet, recebemos 307 histórias e escolhemos 11 para publicar, cada uma desenhada por uma artista diferente. São artistas mulheres, cis, trans e pessoas não binárias”, afirmou a quadrinista ao g1.
A última publicação do ano foi o livro em quadrinhos intitulado “Siriricas Tristes”, que é um compilado de tiras produzidas pela artista nos últimos três anos.
“É uma série que eu criei na pandemia porque estava em isolamento social, angustiada, comecei a investir em vibradores para ter uma sexualidade. Só que o mundo estava acabando, todo dia era uma notícia horrível e pessoas morrendo, então, o que era para ser um prazer acabou ficando triste, ficando um pouco ridículo”, explicou Carol.
Ela também falou sobre a repercussão que a produção teve na internet, os comentários e a rejeição.
“É uma série que tem bastante repercussão na internet, as pessoas comentam muito e ao mesmo tempo gera uma rejeição por falar de siririca de modo tão direto”, salientou a quadrinista.
Ao ser questionada sobre planos para 2024, Carol disse ao g1 que tem duas novas reportagens em quadrinhos para serem publicadas, em parceria com uma outra quadrinista e jornalista, com o título “HQ de Fato” e pretende continuar divulgando seus livros já publicados.
“Por enquanto, eu quero continuar espalhando os meus livros, levando para eventos e falando sobre eles, e seguir com as tiras também. O que vier mais, não sei, eu estou estudando as possibilidades”, finalizou a quadrinista.
Tiras publicadas nas redes sociais da quadrinista Carol Ito
@carolito.hq
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