Banco de dados pode gerar ações que evitem tragédias causadas por chuvas, defende especialista em recursos hídricos

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Mudanças climáticas são responsáveis por chuvas cada vez mais frequentes e volumosas. Ações diretas e indiretas podem contribuir para minimizar impactos. Carros foram levados por enchente na Região Centro-Sul de Belo Horizonte
Belo Horizonte e Região Metropolitana foram atingidas na última terça-feira (23) por chuva forte que causou inundação de ruas e avenidas, alagamentos de imóveis, quedas de árvores e muros, além de raios e rajadas de vento.
Na quarta-feira (24), o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), disse que esse tipo de temporal deve ser considerado como “novo normal” e não há como fugir dessa realidade, referindo-se às mudanças climáticas que o Brasil e o mundo estão enfrentando.
Marcus Cruz, mestre e especialista em recursos hídricos, disse que essas alterações no clima contribuem para precipitações cada vez mais volumosas e frequentes.
Veículos foram arrastados por enchente no bairro São Bento, na Região Centro-Sul de BH
Reprodução/Redes sociais
“É inequívoco que a temperatura média do planeta vem aumentando, desencadeando modificações na dinâmica dos sistemas atmosféricos, mudando o comportamento do clima em todo o planeta. Um exemplo é a alteração no regime de chuvas”, explicou.
Cruz disse ainda que essas características também fazem parte da Região Sudeste do Brasil.
“A dinâmica dos sistemas atmosféricos na nossa região favorece o incremento destas precipitações no período chuvoso tornando os eventos pluviométricos mais frequentes e intensos”, falou ele.
Banco de dados
Enxurrada arrastou carros na Avenida Vilarinho, em BH
O especialista defendeu a criação de um banco de dados para que as informações sobre as chuvas sejam acompanhadas. Segundo ele, esse trabalho possibilitaria análises estatísticas para estudos de escoamento da água pluviométrica.
“É importante ressaltar que já possuímos uma rede de estações de monitoramento pluviométrico bem robusta distribuída pelo Brasil. Em sua maioria, temos pluviômetros que medem a altura de água precipitada de um dia para outro, somatório das precipitações em um dia”, explicou.
Cruz ressaltou que poderia haver progresso na coleta dessas informações, feita em intervalo menor do que em um dia.
“Entender o comportamento das precipitações ao longo de toda a duração do evento traz um domínio de como estas chuvas se distribuem em intervalos de cinco em cinco minutos, por exemplo. Isso é muito importante para entendermos eventos intensos. Essa medição contínua é realizada por instrumentos chamados de pluviógrafos”.
Durante chuva forte, árvore de grande porte caiu no bairro Lourdes, Região Centro-Sul de BH
Elton Lopes/TV Gobo
Ele comentou que os dados e variáveis climáticas também deveriam ser monitorados e armazenados por órgão público federal, como é feito atualmente.
Além dos dados pluviométricos, segundo Cruz, deveriam ter informações climatológicas gerais, como evaporação, medição de umidade, pressão e temperatura, por exemplo.
Carros ficaram empilhados após temporal em Belo Horizonte
Henrique Campos/TV Globo
Como evitar tragédias
Ele salientou que, a partir desse banco de dados, seria possível criar ações para evitar tragédias (veja abaixo).
“A lógica é a seguinte: com monitoramento efetivo, confiável e robusto, as análises sobre as chuvas se tornam cada vez mais assertivas”.
Para o especialista, trabalhar com estatística, baseado em amostra de monitoramento, seria possível estimar o total das chuvas e a duração delas.
“Os modelos hidrológicos de previsão que transformam chuva em vazão também ficam mais precisos. Com isso, temos um entendimento do que pode ocorrer em cada bacia hidrográfica analisada e quais as vazões em trânsito em diversos locais. Para cada bacia estudada, é possível que se identifique quais os volumes de escoamento estão previstos, quais os riscos associados, potenciais áreas sujeitas a inundação e indicação de melhorias no sistema para diminuir os impactos”.
Muro de condomínio caiu e carros ficaram pendurados
Reprodução/TV Globo
Ações diretas e indiretas
Cruz enumerou ações diretas e indiretas que poderiam ser feitas, a partir da criação do banco de dados. São elas:
Diretas
Aumento das áreas permeáveis;
Criação de bacias de acumulação/amortecimento de água para atrasar o pico das vazões;
Aumento da capacidade hidráulica dos dispositivos de drenagem.
Indiretas
Indicação de potenciais níveis de água alcançados em pontos estratégicos, conectados aos alertas de possibilidade de chuvas intensas;
Orientação e conscientização da população para reagir em situações de cheias.
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