Em mensagem, Papa afirma: “O migrante é Cristo que bate à nossa porta”

“Somos chamados a ter o maior respeito pela dignidade de cada migrante”, escreveu Francisco em sua Mensagem para o 109° Dia Mundial do Migrante e do Refugiado – divulgada nesta quinta-feira, 11

Da redação, com Vatican News

Papa Francisco cumprimenta uma família de migrantes no final da Via Sacra no Coliseu de Roma, em 2022 /Foto: ABACA via Reuters

Foi publicada nesta quinta-feira, 11, a Mensagem do Papa Francisco para o 109° Dia Mundial do Migrante e do Refugiado – que será celebrado em 24 de setembro. Para este ano o Papa escolheu como tema “Livres de escolher se migrar ou ficar”.

Ao explicar o tema, o Santo Padre explicou que “Livres de partir, livres de ficar” era o título de uma iniciativa de solidariedade, promovida há alguns anos pela Conferência Episcopal Italiana como resposta concreta aos desafios das migrações atuais. “Na escuta regular das Igrejas particulares pude constatar que a garantia de tal liberdade é uma preocupação pastoral difusa e partilhada”.

O Pontífice reforçou então que “a fuga da Sagrada Família para o Egito não é fruto de uma escolha livre, como aliás não o foram muitas das migrações que marcaram a história do povo de Israel”. “O ato de migrar deveria ser sempre uma escolha livre, mas realmente, ainda hoje, em muitos casos não o é. Conflitos, desastres naturais ou, simplesmente, a impossibilidade de levar uma vida digna e próspera na própria terra natal obrigam milhões de pessoas a partir”, constatou.

O que podemos fazer, o que devemos deixar de fazer

Em sua mensagem, o Papa refletiu que os migrantes fogem por causa da pobreza, do medo, do desespero. Para eliminar estas causas e assim acabar com as migrações forçadas, Francisco afirmou que é necessário o empenho comum de todos, cada qual segundo as próprias responsabilidades. “Empenho esse, que começa por nos perguntarmos o que podemos fazer, mas também o que devemos deixar de fazer”, frisou.

“Devemos prodigalizar-nos para deter a corrida armamentista, o colonialismo econômico, a pilhagem dos recursos alheios, a devastação da nossa casa comum”, indicou Francisco. “Para fazer da migração uma escolha verdadeiramente livre é preciso esforçar-se por garantir a todos uma participação equitativa no bem comum, o respeito dos direitos fundamentais e o acesso ao desenvolvimento humano integral. Só assim será possível oferecer a cada um a possibilidade de viver com dignidade e realizar-se pessoalmente e como família.”

As responsabilidades

Afirmando que é claro que a responsabilidade principal cabe aos países de origem e seus governantes, o Santo Padre lembrou que, por outro lado, estes devem ser colocados em condições de o fazer, sem se ver depredados dos próprios recursos naturais e humanos e sem interferências externas visando favorecer os interesses de poucos. Mesmo quando as circunstâncias permitirem escolher se migrar ou ficar, o Pontífice destacou ser necessário, em todo o caso, garantir que essa escolha seja esclarecida e ponderada, a fim de evitar que muitos homens, mulheres e crianças caiam vítimas de perigosas ilusões ou de traficantes sem escrúpulos.

Em seguida, Francisco escreveu também sobre a responsabilidade de todos: “É necessário um esforço conjunto de cada país e da Comunidade Internacional para assegurar a todos o direito de não ter que emigrar, ou seja, a possibilidade de viver em paz e com dignidade na própria terra”.

Ao explicar sobre a corresponsabilidade de todos os Estados, já que se trata de um bem comum que ultrapassa fronteiras nacionais, o Papa salientou: “como os recursos mundiais não são ilimitados, o desenvolvimento dos países economicamente mais pobres depende da capacidade de partilha que se conseguir gerar entre todos os países”. Enquanto este direito não for garantido, reforçou o Santo Padre, serão ainda muitos os que terão de partir à procura de uma vida melhor.

O migrante é Cristo que bate à nossa porta

Depois de recordar as palavras de São Mateus – “Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo”, Francisco sublinhou: “Estas palavras soam como admoestação constante para reconhecermos no migrante não só um irmão ou uma irmã em dificuldade, mas o próprio Cristo que bate à nossa porta”.

O Pontífice indicou que, enquanto é realizado esse trabalho para que toda a migração possa ser fruto de uma escolha livre, todos são chamados a ter o maior respeito pela dignidade de cada migrante; e isto significa acompanhar e gerir da melhor forma possível os seus fluxos, construindo pontes e não muros, alargando os canais para uma migração segura e regular. 

Ao concluir sua mensagem, o Papa recordou o atual percurso sinodal da Igreja: “O percurso sinodal leva-nos a ver, nas pessoas mais vulneráveis – e entre elas contam-se muitos migrantes e refugiados –, companheiros de viagem especiais, que havemos de amar e cuidar como irmãos e irmãs. Só caminhando juntos, poderemos ir longe e alcançar a meta comum da nossa viagem”.

 

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