Quem é Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Abin alvo de buscas da PF

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Ramagem entrou para a PF como delegado em 2005 e chefiou a equipe de segurança de Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018, depois do atentado a faca em Juiz de Fora (MG). A partir daí, se tornou amigo próximo da família do presidente. Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) alvo de buscas, nesta quinta-feira (25), foi delegado da Polícia Federal (PF) e chegou a ser nomeado pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) para chefiá-la, mas foi impedido de assumir por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Foi eleito deputado federal pelo RJ em 2022.
Ramagem entrou para a PF como delegado em 2005 e chefiou a equipe de segurança de Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018, depois do atentado a faca em Juiz de Fora (MG). A partir daí, se tornou amigo próximo da família do presidente.
Alexandre Ramagem
Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
Posse suspensa
Apesar de o nome dele para o comando da PF ter sido confirmado em publicação no “Diário Oficial da União” em 28 de abril, Moraes decidiu no dia seguinte suspender a nomeação. A decisão foi tomada poucas horas antes da cerimônia de posse, em ação movida pelo PDT.
O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) também havia protocolado uma ação popular para impedir que Ramagem assumisse o cargo. O mesmo foi feito pela Rede Sustentabilidade, que entrou com ação na Justiça Federal de Brasília, conforme informou o líder do partido no Senado, Randolfe Rodrigues (AP).
Logo após a nomeação ser suspensa por Moraes, o presidente Bolsonaro tornou sem efeito o decreto que havia nomeado Ramagem como diretor-geral da PF. Ainda assim, afirmou no mesmo dia ter certeza de que ter Ramagem como diretor da PF é um sonho dele, Bolsonaro, que “brevemente se concretizará, para o bem da PF e do Brasil”.
Ramagem, ao lado do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, no réveillon de 2019
Reprodução
Ramagem próximo a filhos de Bolsonaro

No réveillon de 2019, Ramagem foi fotografado ao lado de Carlos Bolsonaro, filho do presidente, durante a comemoração.
“Ele ficou novembro e dezembro, praticamente, na minha casa. Dormia na casa da vizinha, tomava café comigo, aí tirou fotografia com todo mundo. Foi no casamento de um filho meu… Não tema nada a ver a amizade dele com o meu filho, meu filho conheceu ele depois. E eu confio, passei a acreditar no Ramagem, conversava muito com ele, trocava informações. Demonstrou ser uma pessoa da minha confiança, então a partir do momento que eu tenho uma chance de indicar alguém pra PF, por que não o indicaria?”, questionou Bolsonaro.
Bolsonaro fala da relação de Ramagem com sua família
Ramagem na Secretaria de Governo
Em março de 2019, ainda no início do mandato de Bolsonaro, o delegado foi nomeado assessor do então ministro Santos Cruz na Secretaria de Governo – pasta que fica no Palácio do Planalto.
Ramagem foi mantido na secretaria, como assessor do novo ministro, Luiz Eduardo Ramos, após a demissão de Santos Cruz, em junho de 2019.
No mês seguinte, em julho, o delegado foi escolhido por Bolsonaro para ser diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que é vinculada ao gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, comandada pelo ministro Augusto Heleno. Segundo o GSI, a Abin produz informações para embasar decisões do presidente da República de forma rápida.
Na posse, o presidente se referiu a ele como “um amigo que conheci há pouco tempo”.
Bolsonaro cumprimenta Ramagem em julho de 2019, quando o novo diretor-geral da PF assumiu a chefia da Agência Brasileira de Inteligência (Abin)
Carolina Antunes/PR
Na Polícia Federal, Ramagem comandou as divisões de Administração de Recursos Humanos e de Estudos, Legislações e Pareceres, e atuou na área de coordenação de eventos como a Copa do Mundo de 2014, a Olimpíada de 2016 e a Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente.
Bolsonaro demitiu chefe anterior
Ramagem assume o comando da corporação após Bolsonaro demitir o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, o que precipitou a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça, ao qual a corporação está subordinada.
Ao anunciar sua saída, Moro afirmou que Bolsonaro tentou interferir politicamente na PF ao demitir Valeixo. O presidente nega e diz que Moro propôs aceitar a exoneração do então diretor-geral da corporação se fosse indicado ministro do STF. Moro nega.
Veja e leia a íntegra do pronunciamento de Sergio Moro
Como prova da interferência, o ex-ministro exibiu uma imagem que mostra que o presidente lhe enviou, pelo celular, o link de uma reportagem do site “O Antagonista” segundo a qual a PF está “na cola” de dez a 12 deputados bolsonaristas.
O presidente, então, escreveu: “Mais um motivo para a troca”, se referindo à mudança na direção da Polícia Federal.
Sergio Moro respondeu ao presidente explicando que a investigação não tinha sido pedida pelo então diretor da PF, Maurício Valeixo.
Também na sexta-feira, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a permanência das equipes da Polícia Federal que tocam os inquéritos que ele preside, mesmo com a mudança no comando da PF.
Uma dessas investigações trata da origem de fake news e ameaças anônimas feitas aos integrantes do STF. Outro inquérito, aberto esta semana no Supremo, investiga a organização e o patrocínio de atos antidemocráticos – num deles, no dia 18 de abril, o presidente Bolsonaro discursou.
Parcialidade do governo
Colocar um policial ligado à família no maior órgão de investigação do país levou a duras críticas de parcialidade do governo numa corporação que tem autonomia e independência.
O deputado Marcelo Freixo (PSOL) disse que vai apresentar uma ação para impedir que Alexandre Ramagem assuma o comando da Polícia Federal. Segundo ele, o presidente quer transformar a PF numa polícia política a serviço da família.
Internamente, delegados dizem que é preciso deixar claro que a PF não é um órgão de inteligência como a Abin e não está a serviço do governo.
A Polícia Federal é um órgão de polícia judiciária da União, que faz investigações solicitadas pelo Judiciário. Esses delegados destacam que quanto mais relevante for uma investigação, mais sigilosa ela deve ser, exigindo autorização judicial para ter acesso aos dados.
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