IBGE volta a usar o termo favela nas pesquisas e no Censo

Antes, o instituto usava o termo ‘aglomerados subnormais’. IBGE volta a usar o termo favela nas pesquisas e no Censo
Jornal Nacional/Reprodução
O IBGE mudou a forma como se refere às favelas. Daqui por diante, elas vão ser chamadas de favelas.
Um arranjo de paredes, lajes e tetos que é único no mundo, criado espontaneamente por brasileiros, muitos brasileiros, que vivem em mais de 5 milhões de domicílios nas favelas, segundo o IBGE. Mas nas estatísticas do IBGE essa informação simples estava escondida debaixo de um nome complicado e até pejorativo: as favelas eram oficialmente chamadas de “aglomerados subnormais”.
“A subnormalidade de alguma maneira define uma linha de normalidade, coloca corpos, territórios e sujeitos abaixo dela. Isso acaba justificando um conjunto de políticas que são segregadoras, por isso é tão importante discutir”, pontua Lino Teixeira coordenador de políticas urbanas do Observatório de Favelas.
A favela falou e o IBGE ouviu. A palavra percorreu um caminho sinuoso, como muitas ruas de favela. Em 1950, já estava no censo, mas significando algo precário, transitório, quase ilegal. A partir daí foi surgindo um contraste. Enquanto as favelas estiveram cada vez mais presentes no mapa das grandes cidades, o nome foi desaparecendo das estatísticas oficiais. Em 2007, sumiu do vocabulário do IBGE. Agora, a palavra está de volta. Esta é a favela, orgulhosamente nomeada pelos próprios moradores.
A partir de hoje, o nome oficial nas pesquisas passa a ser favelas e comunidades urbanas. Uma expressão que retrata o Brasil e inclui o morro carioca, a quebrada paulistana sem excluir a grota, a ocupação, a palafita.
Não é só uma troca de palavras. Junto com o nome, muda o jeito de olhar.
“Agora, em vez de falar em precariedade desses territórios, precariedade dos serviços públicos essenciais, o IBGE se refere a oferta precária ou incompleta desses serviços. A gente inverte essa equação. Não são os territórios que são carentes ou precários, é a oferta que é precária ou incompleta e não garante o direito a moradia, entendendo o direito a moradia adequada no seu sentido pleno”, diz Letícia Giannella, pesquisadora do IBGE.
A favela tem muito para melhorar, mas com o reconhecimento da potência, da qualidade, do que tem de possível para ser melhorado, é o que a gente espera que possa acontecer daqui para frente”, afirma Elaine Caccavo, diretora institucional da Cufa.
Favela: lugar de morar, trabalhar, consumir, criar e de jogar fora os preconceitos.
“Era uma visão de fora para dentro e, principalmente, uma visão que tinha vergonha de chamar de favela o que de fato esses locais são. São favelas e por isso que essa mudança é tão importante. Uma mudança que mostra o reconhecimento desses locais e dessas pessoas”, diz Marcus Vinícius Athayde, diretor de inovação da Cufa.
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