Presidente do Vila Nova chegou a questionar jogador sobre participação em esquema: ‘Como você entra em um negócio desse?’

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Na conversa com o presidente, Romário justificou ter entrado no esquema por não estar jogando com frequência. Defesa do atleta diz que a inocência dele será provada ao longo do processo. Conversa entre o presidente Hugo Jorge Bravo e o jogador Marcos Vinicius Alves Barreira, conhecido como Romário
Wildes Barbosa/O Popular, Reprodução/Redes Sociais, Reprodução/Ministério Público e montagem/g1
Antes de denunciar o suposto esquema de manipulação em resultados de jogos, o presidente do Vila Nova Hugo Jorge Bravo chegou a questionar o jogador Marcos Vinicius, conhecido como Romário sobre sua participação nas fraudes (veja diálogo acima). O presidente também conversou com Bruno Lopez, apontado como chefe do grupo, para coletar informações sobre o esquema.
“Como você entra em um negócio desse?”, questiona o presidente.
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O jogador está entre os acusados pelo MPGO por aceitar ou pedir propina duas vezes pra alterar o resultado do jogo. Ao g1, a defesa do atleta, representada pelo advogado Odair de Meneses, informou que o jogador não foi denunciado por crime de associação ou organização criminosa e que a inocência dele “será provada no curso do processo” (veja nota completa ao final da reportagem).
Na conversa com o presidente do Vila Nova, o jogador justificou ter entrado no esquema por não estar jogando com frequência.
“Não sei, estava ‘grilado’ sem jogar, só treinando, mas quando fui cair a ficha, pedir para sair, já era tarde”, respondeu o ex-jogador do Vila Nova.
Romário ainda detalha para o presidente sobre R$ 7 mil que estaria devendo. Segundo ele, esse dinheiro teria “caído na conta dele” e ele teria “gasto sem ver”. Mais uma vez, o presidente o questionou.
“Como você não viu R$ 7 mil na sua conta, moço?”, perguntou Hugo.
“Não chega notificação. Fui gastando pensando que era o salário”, justificou Romário.
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Informações para denúncia
Além de questionar o jogador sobre a participação dele no esquema, o presidente do Vila Nova também conversou com Bruno Lopez, apontado pelo Ministério Público como chefe do grupo. Prints mostram que, na conversa, Hugo conseguiu fazer com que o apostador admitisse como o esquema funcionava e ainda enviasse comprovantes de transferências realizadas.
A defesa de Bruno Lopez disse que vai se posicionar sobre as acusações formal e processualmente no momento oportuno (veja nota completa ao final da reportagem). O g1 ainda tentou contato com o presidente do Vila Nova, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Ao conversar com o suposto chefe do esquema, o presidente Hugo Jorge Bravo falou sobre o ex-jogador do Vila Nova que também foi investigado na Operação Penalidade Máxima, do Ministério Público, Marcos Vinicius Alves Barreira, mais conhecido como ‘Romário’.
“Ele sabia do tamanho da operação. Sabia que a operação dependia dos três atletas fazerem. R$ 30 mil em sinais para jogadores, R$ 10 [mil] para cada atleta. Era 150 pra cada o combinado. Já receberam 10”, escreveu o apostador.
Nos comprovantes de transferência enviados por Bruno a Hugo (veja print abaixo), é possível ver que o sinal encaminhado a Romário foi transferido primeiro para o jogador Gabriel Domingos, que repassou o dinheiro para Romário. No depoimento, o presidente conta que, segundo Bruno, Gabriel não teria nenhum envolvimento no esquema, tendo apenas emprestado sua conta bancária após Romário dizer que sua conta estava bloqueada e ele precisava de uma emprestada para receber um valor.
Comprovante de transferência enviada por Bruno Lopez a Hugo Bravo e foto do ex-jogador do Vila Nova Romário, em Goiânia, Goiás
Reprodução/Ministério Público e Divulgação/Vila Nova
Atuação em núcleos
Segundo o MP, o grupo criminoso cooptava jogadores com ofertas que variavam entre R$ 50 mil e R$ 100 mil para que cometessem lances específicos nos jogos – como um número determinado de faltas, levar cartão amarelo, garantir um número específico de escanteios para um dos lados e até atuar para a derrota do próprio time. Diante dos resultados previamente combinados, os apostadores obtinham lucros altos em diversos sites de apostas.
Segundo o Ministério Público, o esquema era dividido em quatro núcleos: de apostadores, financiadores, intermediadores e administrativo. Bruno Lopez, segundo a denúncia do órgão, era o líder do núcleo de apostadores.
Os núcleos funcionavam da seguinte forma: o “Núcleo Apostadores” era formado por responsáveis por contatar e aliciar jogadores para participação no esquema delitivo. Eles também faziam pagamentos aos jogadores e promoviam apostas nos sites esportivos.
Também havia o “Núcleo Financiadores”. Eles eram os responsáveis por assegurar a existência de verbas para o pagamento dos jogadores aliciados e também nas apostas manipuladas.
Além disso, havia o “Núcleo Intermediadores”, estes eram responsáveis por indicar contatos e facilitar a aproximação entre apostadores e atletas aptos a promoverem a manipulação dos eventos esportivos.
Também havia o “Núcleo Administrativo”, que era responsável por fazer as transferências financeiras a integrantes da organização criminosa e também em benefício de jogadores cooptados.
Como a operação começou
A Operação Penalidade Máxima já fez buscas e apreensões nos endereços dos envolvidos. As investigações começaram no final de 2022, quando o volante Romário, do Vila Nova-GO, aceitou uma oferta de R$ 150 mil para cometer um pênalti no jogo contra o Sport, pela Série B do Campeonato Brasileiro. Romário recebeu um sinal de R$ 10 mil, e só teria os outros R$ 140 mil após a partida, com o pênalti cometido. À época, o presidente do Vila Nova-GO, Hugo Jorge Bravo, que também é policial militar, investigou o caso e entregou as provas ao MP-GO.
Nota da defesa de Marcus Vinicius Alves, conhecido como Romário:
“A defesa do atleta Marcos Vinicius Alves Barreira, vulgo “Romarinho”, com referência às acusações contidas e veiculadas na operação “penalidade máxima”, vem informar que a investigação criminal envolvendo o atleta já foi concluída pelo Ministério Público do Estado de Goiás e encaminhada ao Poder Judiciário, com o oferecimento de denúncia por suposta infração ao art. 41-D da Lei nº 10.671/03(Estatuto de Torcedor), cuja defesa já apresentou respota à acusaçãp, estando o processo aguardando a manifestação dos demais corréus para designação de audiência de instrução. Destacando que o mesmo não foi denunciado por crime de associação ou organização criminosa. Cuja inocência será provada no curso do processo. Não tendo o atleta firmado acordo de delação premiada ou de não persecução penal com o Ministério Público.”
Nota da defesa de Bruno Lopez na íntegra:
“De igual forma à primeira fase da operação, entendemos que, por se tratar de uma denúncia extensa, com diversos anexos oriundos dos elementos extraídos na investigação, é necessário muita cautela em qualquer comentário. Apesar de se tratarem de fatos novos, jogos diferentes daqueles que foram objeto de denúncia na primeira ação penal, o crime pelo qual Bruno se encontra acusado é exatamente o mesmo, mas por situações diferentes. Como de praxe, sempre com muito respeito ao trabalho do Ministério Público e do Poder Judiciário, as acusações serão formal e processualmente respondidas no momento oportuno.”
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